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A pessoa mais velha sentada à mesa

Vivi uma experiência reveladora: ser a pessoa mais velha em uma mesa rodeada de jovens talentosos. Esse momento, em uma startup em São Paulo, me fez refletir sobre as diferentes fases da vida e como percebemos o sucesso e o tempo.

Diego Eis

Era eu. Pela primeira vez eu fui a pessoa mais velha sentada numa mesa. Eu me vi ali, no terceiro dia de trabalho numa startup em São Paulo, almoçando com algumas pessoas, todas elas mais jovens do que eu. Engraçado, pois eu nunca estive numa situação assim. Pela primeira eu me senti deslocado igual ao tio da Sukita (se você não entendeu, é porque é mais jovem que eu).

Obviamente isso não é uma coisa necessariamente ruim. Foi interessante observar e de alguma forma fazer parte da conversa de uma galera que tem entre 24 e 26 anos, classe média, com talentos, privilégios, vitórias e perdas. Inevitavelmente eu me peguei pensando que há dez anos atrás eles eram adolescentes e eu já tinha aberto a minha empresa há anos com o mesmo gás e ousadia que eles estavam conversando à mesa, já praticamente bem sucedidos e encaminhados com os seus propósitos. Mas é aí que você precisa tomar cuidado, e eu tomei. Se você vacila por um segundo, você começa a duvidar de si próprio. As comparações surgem instintivamente e se você não se desviar desses pensamentos, você perde.

Talvez isso seja ou não seja a crise de meia idade que tanto eu ouvia falar quando era jovem. Se for, estou atrasado uns 4 anos. Será que é por isso que eu ando ranzinza e impaciente? Sempre que percebo eu me pego observando pessoas tomando decisões sem sentido, acabando com o tempo delas nas redes sociais e não produzindo nada de útil para elas ou para qualquer outra pessoa. Outra coisa é que eu tenho analisado mais os meus comportamentos.

Sempre fui um cara muito proativo, mas atualmente eu tenho me questionado sobre qual o nível de proatividade eu devo ter e se vale a pena ser proativo em determinados ambientes. Também estou me questionando bastante sobre a forma com que lidamos com trabalho e o sangue que doamos (mentira, não doamos nada, alguém paga para doarmos o nosso sangue e o nosso suor, logo, não fazemos nada mais que o nosso lado da barganha) no ambiente de trabalho todos os dias.

Durante muito tempo eu doei meu tempo, meu suor e meu conhecimento para empresas e projetos pessoais por diversos motivos: algumas vezes para ganhar reconhecimento, outras por dinheiro, outras pelo simples motivo de não conseguir ficar parado. Qual o sentido disso se não a mais pura vaidade? Salomão já descobriu isso lá atrás e alertou todo mundo que qualquer coisa desse tipo é correr atrás do vento.

Outro dia estava ouvindo uma das melhores bandas de todos os tempos, The Smiths (hehehe, pode torcer o bico agora). Na música Heaven knows I'm miserable now, ele diz:

In my life
Why do I give valuable time
To people who don’t care
if I live or die?

Isso se aplica a tudo. Se eu tiver sua licença pra filosofar, isso não se aplica apenas a pessoas ou ao trabalho, isso também se encaixa em como você gasta seu tempo fazendo coisas que não fazem sentido pra você. Parado ali vendo a juventude conversar, consegui refletir sobre as coisas que fiz, e quer saber, eu fui bem longe, mais longe do que eu imaginei. Talvez eu pudesse ter feito mais, mas com certeza eu poderia ter feito bem menos também.

Há muito tempo atrás eu ouvi a frase que falava “o mundo pertence aos jovens”. Naquela época eu era jovem e por isso subestimei essa afirmativa. Não entendi o poder que talvez eu tivesse na época. Conquistei bastante coisa até os meus 26 anos… mas nada comparado aos garotos e garotas sentados à mesa que tem o mundo aos seus pés. Outra coisa que pensei foi em como os pais podem ajudar os filhos na caminhada. Onde você consegue chegar, pode ser o ponto de partida da jornada do seu filho. O quanto eu posso dar de vantagem pro meu filho? Será que será o suficiente?

Mas deixando a vaidade, o orgulho e o ego de lado, o que sobra é a realidade. Se você vai ficar feliz ou não com o que sobra, é algo que só você pode decidir. O seu sucesso não pode ser comparado com o sucesso dos outros. Se você tenta comparar essas coisas, você acaba ofuscando as coisas boas que você conquistou e se perde no sucesso dos outros, um sucesso que nunca será seu, porque cada um tem seu sucesso individual.

Você já leu a história do Dave Mustaine? Ele foi o guitarrista do Metallica, antes do Metallica ser o que é hoje. Ele saiu (acho que tiraram ele da banda) e aí ele fundou o Megadeath. O ponto é que o Metallica se transformou numa das maiores bandas do mundo. Para o Mustaine, não importa se o Megadeath é uma banda de sucesso, o que importa para ele é que ele não faz parte do Metallica. Entende o que eu quero dizer?

Enquanto isso, eu passei uma hora observando eles discutindo as vantagens e desvantagens de se morar sozinho ou continuar morando com os pais, além das farras de faculdade… na maior parte do tempo em silêncio, mas refletindo e ouvindo feliz todos os causos, e tendo certeza de que alguma hora eles alcançarão os sucessos deles, assim como eu alcancei os meus.