Eu trabalho com internet e tecnologia desde 2001. Comecei como desenvolvedor front-end, abri o tableless.com.br em 2003 e, mais recentemente (este texto foi escrito em 2020 e revisado em 2023), depois de ter sido Diretor de Produtos Digitais na Sympla e na Jüssi, trabalhei como Diretor de Produtos em Consumer de Real Estate na OLX. Já treinei e mentorei mais de uma centena de pessoas e times pelo Brasil. Consegui acumular um pouco o ponto de vista de uma série de empresas, segmentos e indústrias de mercado e principalmente de vários PMs e líderes de produto.
Eu sei, por experiência própria, que trabalhar em um mercado tão emergente é difícil. Faltam mentores, falta conteúdo, falta um filtro que ajude a saber o que é certo e o que é errado – ainda mais nessa área, Gestão de Produtos, algo tão novo aqui no Brasil. Eu comecei nessa área de tecnologia como dev front-end. Lá atrás, eu abri um site chamado Tableless, um dos pioneiros no Brasil sobre front-end sendo feito com Padrões Web. Abri o blog na época exatamente pela falta de conteúdo em português e pela falta de pessoas mostrando o caminho das pedras para uma evolução mais rápida, concisa e com qualidade.
Hoje segui mais ou menos pelo mesmo caminho abrindo o Product Oversee, que é um grupo de pessoas com mais de 90 autores, contando com meetups, portal de conteúdo, newsletter, eventos e cursos para democratizar ao máximo conteúdo de qualidade sobre liderança e construção de produtos digitais. A ideia é tentar, ao máximo, trazer uma visão realista sobre a disciplinar de gerir produtos no mercado brasileiro.
No blog SVPG, liderado pelo Marty Cagan, o artigo mais antigo que encontrei que cita sobre a área de Produtos tem a data de 2005[1]. Sendo bastante franco, eu só fui ouvir o termo produtos digitais depois de 2010. Até então, para explicar para os outros o que eu fazia, eu dizia que geria projetos de sites e aplicativos. O termo produtos digitais não era conhecido pelas pessoas "comuns", mas também estava começando a se popularizar nas comunidades, grupos e pelas empresas que eu conhecia.
Contudo, entre 2015 e 2020, uma demanda enorme em busca de Product Managers (PM) explodiu no Brasil, principalmente nas grandes capitais. Não que já não houvesse esse tipo de profissão aqui no Brasil: empresas como Locaweb e várias startups já trabalhavam corretamente com gestão de produtos, usando processos bem estabelecidos e demandavam, pelo menos, a necessidade de ter Product Owners (PO) no time, dado que Scrum já era muito popular.
O aparecimento e estruturação de grandes startups foi outro fator fundamental que ajudou a popularizar aqui no Brasil a profissão de Product Manager. O Brasil virou foco de grandes investidores à procura de empresas com potencial de crescimento acelerado, como Movile, NuBank, Loggi, Creditas e várias outras. Além de boas ideias, essas empresas trouxeram uma estrutura profissional de times de Produtos Digitais, organizando processos e estabelecendo um modo de operar que, até então, pouco se via em empresas de tecnologia no Brasil.
Aos poucos, o foco deixou de estar apenas em times de desenvolvedores, dando espaço para que outras especialidades ganhassem visibilidade, como Product Designers, Product Managers, Data Science e outros profissionais, que, por sua vez, compõem times multidisciplinares que constroem e mantêm produtos digitais.
Dessa forma, o poder de decisão deixou de estar concentrado nas áreas de marketing, comercial e de negócios, dividindo essa decisão com Product Managers, designers, desenvolvedores e todo o time de produto, que, por sua vez, identificam oportunidades, fazem análises de dados qualitativos e quantitativos (inclusive dados advindos do time de negócio) de comportamento de usuários e do mercado, e sugerem, juntamente com a área de negócio, qual deve ser o caminho ou a aposta que a empresa poderá fazer.