Você já deve ter visto ou lido o livro Hábitos Atomicos do James Clear.
O livro fala sobre a construção, manutenção e a remoção de hábitos. Eu achei que seria mais um desses livros vagos sobre hábitos e comportamento pessoal, mas pelo contrário, ele é incrivelmente prático além de ser bastante direto.
Um dos pontos altos do livro, e talvez a dica mais importante do livro, é o fato de que é muito mais fácil criarmos bons hábitos e deixarmos os ruins quando nós mudamos nossa identidade. Nós somos altamente movidos pela busca por resultados. Definimos primeiro um resultado que queremos ter, depois o processo para conseguir aquele resultado: “quero perder 30Kg, por isso vou fazer essa dieta e esses exercícios”. Esse é um caminho doloroso e bastante ineficaz na maioria das vezes. Nós tentamos mudar a coisa errada e principalmente da forma errada.
Sua identidade é o que você deve valorizar
A ideia é muito simples: para mudar nossos hábitos, precisamos definir (ou fortalecer) nossa visão de mundo, nossos valores, quem nós somos ou desejamos ser, ou seja, nossa identidade. É muito diferente quando alguém oferece bebida alcoólica para duas pessoas e uma dela diz “Estou parando de beber, obrigado” e a outra diz “Não obrigado, eu não bebo”. O hábito nasce da formulação de quem estamos dispostos a nos tornar e não apenas por causa de um esforço temporário.
A maioria das pessoas nem sequer considera a mudança de identidade quando quer aperfeiçoar algum aspecto. Elas apenas pensam: “Quero ser magro (resultado) e, se eu adotar esta dieta, serei magro (processo).” Elas estabelecem metas e determinam as ações que devem tomar para atingir esses objetivos sem considerar as crenças que impulsionam suas ações. Clear, James. Hábitos Atômicos (p. 41). Alta Books. Kindle Edition.
Nossa identidade é construída em volta de pilares importantes da nossa vida, por exemplo o trabalho. O Cris Dias já falou disso nesse episódio do Boa Noite Internet, onde ele desnuda todas as camadas da simbiose estranha que temos com o nosso trabalho e como isso se transforma na nossa identidade mais primordial, ao ponto de nos transformarmos em reféns da nossa própria identidade.
Cuidado para não se tornar refém da sua identidade
O James Clear também trata disso no livro. Ele diz que nós não devemos criar uma identidade que seja tão grande ao nível de que quando nos encontrarmos em um cenário onde há a necessidade de mudança de direção, a mudança da nossa identidade não seja dolorida.
Eu comecei minha carreira como desenvolvedor Front-end. Nessa época eu abri um site chamado Tableless, onde eu blogava sobre tecnologia e desenvolvimento front-end com padrões web. Na época esse assunto era a última bolacha do pacote. Nesse blog eu mostrava o que eu estava aprendendo. O site cresceu bastante e se tornou uma espécie de referência para área. Isso foi por volta de 2003 até pouco tempo atrás. Na comunidade front-end, geralmente, as pessoas me chamavam de Diego Eis do Tableless. Quando eu saí da empresa que fundei e fui pro mercado ser CLT com carteira assinada, eu achava que meu background de empreendedor iria contar alguns pontos, mas até parece. Fui contratado na Locaweb exatamente para estruturar a área de front-end. O site era minha identidade, não a empresa que eu fundei.
A chave para atenuar essas perdas de identidade é redefinir a si mesmo de tal forma que consiga manter aspectos importantes de sua identidade, mesmo que seu papel específico mude. “Sou atleta” se torna “Sou o tipo de pessoa que é mentalmente resistente e ama um desafio físico” “Sou um ótimo soldado” se transforma em “Sou o tipo de pessoa que é disciplinada, confiável e ótima trabalhando em equipe” “Sou o CEO” se traduz em “Sou o tipo de pessoa que constrói e cria coisas” — Clear, James. Hábitos Atômicos (pp. 234-235). Alta Books. Kindle Edition.
Chegou um dia que eu entendi que essa identidade estava sufocando meus objetivos de médio e longo prazo. Demorei muito para desconstruir essa identidade, da qual eu gostava muito e tinha me esforçado durante anos para construir. E quando consegui, passei um tempo de provação mental, evitando a auto-sabotagem de que eu tinha jogado fora tudo o que eu havia construído para tentar trilhar um caminho incerto.
Todo o esforço deu certo e cá estou, mais feliz, mais sábio, mais velho e bem mais satisfeito. Estou um pouco mais desapegado e bem mais suave e flexível, assim como diz o Tao Te Ching.
Nós temos várias identidades mas os princípios são imutáveis
Nós somos um conjunto de identidades. Você muda quando está no trabalho e quando está em casa. Quando lida com as pessoas do futebol e quando lida com sua família ou amigos mais próximos. Isso não é necessariamente ruim. Exatamente por que as suas identidades devem ser suaves e flexíveis, para que você mude de forma orgânica, sem dores no processo. Essas mudanças já ocorrem todos os dias o tempo inteiro. Essas várias identidades devem ser ancoradas em princípios e valores pessoais, que darão a direção e fortalecerão as identidades que as pessoas por fim percebem. Esses valores vão além da sua capacidade técnica no trabalho ou de relacionamento. Elas são imutáveis e por isso você deve escolher com muito cuidado quais serão seus valores pessoais.
Tempos atrás, na newsletter número 9, escrevi sobre os princípios e valores que me regem. O princípio de maior valor para mim é a integridade. Tanto no trabalho quanto na vida pessoal, tento ser íntegro. Escolhei integridade como um dos pilares por que ele traz consigo uma série de valores acoplados como honestidade, ética e transparência.
Epiteto diz que você deve primeiro entender e decidir que tipo de pessoa você quer ser. Depois disso, você precisa se ater a essa decisão.
“regard as the same,” from French identifier, from identité (see identity ). Sense of “determine the identity of, recognize as or prove to be the same” first recorded 1769. Meaning “make one (with), associate (oneself), regard oneself as being the essence of” is from 1780. Sense of “serve as means of identification” is attested by 1886. Related: Identified; identifying.
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