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Vida e comportamento

Felicidade, propósito e satisfação suficiente

Achamos que se todos os compartimentos da nossa vida estiverem com a nota máxima de felicidade, isso vai resultar em uma nota positiva no saldo geral. Mas talvez isso não seja verdade.

Diego Eis

Estava lendo esse artigo outro dia Não confunda trabalho com paixão, e a partir de uma thread no Twitter, comecei a pensar em como atrelamos a felicidade a partes relacionadas a nossa vida e não ao todo.

Existe uma interpretação comum de que devemos buscar a felicidade em partes específicas da vida, separando a felicidade em compartimentos bem independentes. Talvez seja por isso que dizemos que somos felizes no casamento, felizes no trabalho, felizes onde moramos, felizes com a família etc. Mas nos esquecemos que a soma das partes resulta em um saldo final, que geralmente não nos preocupamos no dia a dia.

Eu sei que precisamos ter esses compartimentos hermeticamente independentes porque eles devem ser cambiáveis, permitindo que possamos trocar de emprego, por exemplo, sem afetar inteiramente o resto  da vida. Contudo, quando se trata de felicidade, imagino que devamos medir o saldo final e não apenas as partes. Isso nos dá flexibilidade e margem de manobra para mudanças.

Confundimos demais quando temos uma vida boa com nosso cônjuge, família, amigos e trabalho com felicidade plena. Achamos que se todos os compartimentos da nossa vida estiverem com a nota máxima de felicidade, isso vai resultar em uma nota positiva no saldo geral. Mas talvez isso não seja verdade, exatamente por causa do esforço que fazemos pra alcançar a nota máxima em todos os pontos. As vezes o “custo e benefício” desse esforço não valha tanto a pena. Além disso, há pontos no caminho que nos trazem mais felicidade e conforto do que propósito, por exemplo saúde. Alguém doente e alguém saudável podem ter o mesmo nível de propósito e significado. Embora as pessoas saudáveis possam ser mais felizes que pessoas doentes.

E o propósito?

Felicidade e propósito tem grandes overlaps.

É interessante notar também que propósito e felicidade tem uma diferença de tempo. Felicidade tem muito mais a ver com o presente, enquanto propósito tem muito mais a ver com a conexão entre passado, presente e futuro. Você pode ser feliz procurando ter uma vida cheia de propósito, inclusive com todos as coisas ruins que isso pode incluir (e boas também), mas provavelmente você não estará priorizando felicidade. Provavelmente felicidade será o que você viverá em momentos específicos nessa jornada.

Epicuro falava que nós nunca podemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais. Dado que propósito tem a ver com presente, passado e futuro, nós focamos muitos dos nossos esforços nessa expectativa futura, desperdiçando o presente, que é realmente onde a felicidade se encontra.

Acho que as vezes eu não preciso estar 100% feliz com o meu trabalho ou com meus familiares e amigos pra ter uma vida 100% feliz (um saldo final positivo). Posso ter um emprego OK, que eu goste de executar e que seja economicamente viável com os meus desejos e necessidades. Obviamente essas medidas e prioridades serão diferentes para cada pessoa. Decisões como priorizar mais trabalho do que família, mais saúde do que diversão são decisões individuais, onde a resposta é coerente com o histórico de cada um.

Prefiro buscar satisfação do que felicidade

Sempre que penso nesses assuntos, me convenço cada vez mais de que tudo depende do nosso nível individual de satisfação. E satisfação só chega se os seus critérios pessoais atingiram um limite suficiente pra você. Nem mais, nem menos, mas justamente suficiente.

  • Quanto de dinheiro é suficiente pra você ter uma vida confortável que você deseja?
  • Quanto tempo de dedicação é suficiente pra você ser saudável da maneira que deseja?
  • Qual o trabalho, empresa e cargo é suficiente pra você saciar sua ambição, ego, status? (Nenhuma dessas coisas eu julgo 100% ruins, elas são extremamente necessárias, embora a sociedade tenha banalizado de forma negativa o significado dessas palavras)
  • O quão suficientemente próximo você estar da sua família e amigos?

Eu estou tentando alcançar uma vida com mais propósito, a felicidade aqui entra como um tempero, um alívio no deserto. Mas estou feliz tentando alcançar uma vida com mais significado e sabedoria.

Pós Disclaimer

Eu não tenho conhecimento algum pra escrever sobre assuntos filosóficos e profundos, mas gostaria de deixar aqui esse pensamento caótico. Um dos objetivos desse ano de 2021 é escrever melhor (tecnicamente falando). E escrever textos fora da minha zona de conforto poderá me ajudar a alcançar esse objetivo. Seria interessante ter seu Feedback durante esse processo. E não, não vou me aventurar a escrever apenas sobre coisas filosóficas aqui, não é esse o foco, mas com certeza esses textos existirão.

Um ótimo 2021.