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Web Development

Uma anotação sobre Clubhouse e Twitter

Diego Eis

Essas são minhas anotações sobre o Clubhouse. É uma especie de compilação das coisas que li, ouvi e senti usando o app.

TL:DR;

Eu achei que iria odiar o formato, mas ao contrário do que eu pensei, tenho entrado todos os dias e participado, tanto como ouvinte, quanto como speaker. Espero que o Twitter lance logo o Spaces e torço pra haver uma migração para o Twitter.

Redes abertas vs Fechadas

Com estratégia de convites, as pessoas tem a tendência de engajar muito mais por causa da sensação de escassez, aumentando a autoridade de quem chega primeiro e estimulando a criação de conteúdo massificado e estimulado pelo desejo de explorar o novo formato, pelo menos por um tempo.

O Twitter, desde o início, é uma plataforma mais aberta e democrática, onde qualquer pessoa pode criar e publicar seu conteúdo, adquirindo o mínimo de chance, de conseguir visibilidade amplificada. Contudo, assim como qualquer grande veículo massificado de conteúdo, o Twitter sofre bastante por ser uma rede mais aberta. Vide problemas de fakenews, políticos, extremistas e manipuladores de todos os tipos. Antes, era uma rede que se adaptava ao comportamento das pessoas, hoje, sofre pela necessidade pesada de moderação. É uma rede aberta ainda, mas não como antigamente.

Já o Clubhouse joga diferente: ele apela para a hierarquia e exclusivismo. As salas podem ser ouvidas por qualquer pessoa, mas você como ouvinte não pode fazer nada (ainda), além de ouvir. Pra participar da “palestra”, você precisa ser “puxado pra cima”, saindo da audiência e indo pro palco. Esse formato mais oligarca é intencional e começa desde a estratégia de convites até a permissão de fala pelos moderadores, que são os controladores da sala. Você pode se transformar em um moderador, mas só se alguém te promover.

Poucos sabem disso, mas o Clubhouse já está no mercado desde Abril de 2020, contudo ele era aberto apenas para celebridades, grandes investidores e a alta elite da tecnologia. Mas mesmo depois de quase um ano sendo usado por um grupo pequeno de pessoas e agora ganhando as manchetes, ele ainda continua fechado. Além de um detalhe não menos importante: é disponível apenas para iOS.

Spaces, a iniciativa do Twitter

O Twitter tem testado desde dezembro de 2020 sua versão do Clubhouse, o Spaces. A briga entre as duas ferramentas será ótima. Eu ainda não usei o Spaces, mas ele ainda está em fase beta. Mas pode ser que o Twitter tenha o poder como o Facebook teve de fazer as pessoas migrarem do Snapchat para o Instagram. Atualmente, quem usa Clubhouse, já usa o Twitter para divulgar suas salas de áudio. Além disso o conteúdo de anos das pessoas estão no Twitter, a chance de criadores celebrarem sua fidelidade ao Twitter é grande, mantendo em um só lugar seu conteúdo. Há também a vantagem de que o Twitter já tem sua distribuição social construída. Uma vez que as pessoas começam a usar o Spaces, há grandes chances de se popularizar.

Sobre a Acessibilidade

Acessibilidade também pode ser um ponto importante para esse tema. O Clubhouse ainda é uma rede exclusiva para não-surdos. Já o Spaces tem algumas funcionalidades que facilitam o acesso para pessoas que tenham dificuldades auditivas, por exemplo, áudio descrição ao vivo.

I am currently in a Twitter Space conversation which is like Clubhouse. It’s great to see @TwitterSpaces has closed captioning built into the beta.

I am excited to see where this goes and if #accessibility will be built in from it’s foundation. # TwitterSpaces pic.twitter.com/S6xgGmLTq3

— Rob Butler 🇨🇦 (@RobButler) January 25, 2021

Se você ampliar a percepção de acessibilidade para não apenas dificuldades físicas, mas também sobre acessibilidade de informação e networking, o Clubhouse é incrível. Em uma sala eu pude ouvir grandes investidores, brasileiros ou gringos. Eu pude ouvir, ao vivo e em primeira mão, grandes profissionais do mercado e pessoas referências em suas respectivas áreas. Esse comentário me leva para outro assunto interessante: comunidades.

Sobre os assuntos abordados e as pessoas

Sim. O Clubhouse, em muitos momentos, se parece com o LinkedIn em áudio. Você vê isso pelo nome das salas, até as pessoas que participam. É comum encontrar salas com nomes como “papo de negócios”, “lições do esporte nos negócios”, “Máfia do Pão de Queijo: papo reto, sem ofender”. A mesma galera “top voice”, com um discurso motivacional e marqueteiro foram os primeiros. Contudo, já tem pipocado uma série de salas mais naturais de pessoas bem mais reais.

Contudo, já consegui ouvir pessoas maravilhosas que eu nunca conseguiria ouvir em outro canal, por exemplo, em uma sala sobre Vendas, eu ouvi o Padre Fabio de Melo, o Celso Portiolli e o Hugo Gloss falando sobre oratória, tanto em programas ao vivo quanto em programas gravados. Veja bem a diversidade de assunto e perfis: um padre, um apresentador e um entrevistador/influenciador falando sobre oratória em uma sala sobre Vendas!
Por outro lado, outro dia fiquei como ouvinte de uma sala onde a galera imitava a voz de capitão de avião e torre de controle. Já nesse o Adnet com Anitta (além de outros participantes anonimos), imitavam sem parar, o audio de aviões e seus tripulantes. Cada coisa engraçada que não seria possível em outro canal.

Ainda há poucas pessoas envolvidas com tecnologia. Essa é uma boa oportunidade.

Privacidade

Existem uma série de issues envolvendo pontos sobre privacidade individual. Nem estamos falando sobre dados, mas sobre a sua liberdade de ir e vir na plataforma sem alarmar as pessoas, por exemplo, você conseguir entrar em uma sala sem notificar outras pessoas. Eles até falam sobre o anonimato. Por exemplo, as pessoas não poderão entrar nas salas de forma anônima.

By using the Service, you consent to having your audio temporarily recorded when you speak in a room. These temporary audio recordings are solely used for Trust & Safety incident investigations. — Termos de uso

A forma de convite já é bastante controversa. Pra você convidar pessoas, você precisa dar acesso dos seus contatos ao Clubhouse. Essa é uma forma esperta de conseguir montar um grafo de conexão entre as pessoas. Então, mesmo que você não esteja no Clubhouse, eles sabem quem te conhece e quem você conhece...

Além disso, há rumores que o Clubhouse grava suas conversas, pelo menos por enquanto. Eles dizem que é pra manter sob controle de incidentes.

Sobre marcas

As marcas por exemplo, devem dar suporte as pessoas. Eles dizem que marcas não tem voz, quem tem voz são pessoas. A ideia é que o Clubhouse seja um movimento social, onde reforçam o movimento de comunidades, dando poder pra as pessoas.

A ideia parece ser boa. Filtrar as marcas agora é uma boa maneira de deixar a rede continuar a crescer de forma neutra e orgânica, cedendo tempo para ouvir outras pessoas e não balela de empresas. Logo, a única forma que as empresas tem de divulgar sua marca é entrando como pessoas reais. Não tem robozinho automático de resposta igual o twitter. E ali, não se troca mensagens de texto, apenas audio. Ou seja, as marcas precisam de representantes que realmente interagem de acordo com o contexto das salas existentes. Marcas podem abrir salas, mas correm o risco das pessoas não aparecerem para ouvir jabá. Então, a geração de pautas precisam ser bem pensadas.

Mesmo assim, participei de várias salas sobre marketing, onde “celebridades” falavam, como convidados, sobre suas marcas e empresas. Foi assim que eu ouvi pela primeira o CEO e o Diretor de Marketing do McDonalds Brasil falarem um pouco como montaram as estratégias das campanhas que estão rolando agora.

Já existem pessoas tentando criar formas para marcas estarem presentes nesse formato.

Conclusão

Há também a dúvida sobre o que acontecendo esse formato depois da pandemia. Será que as quarentenas alavancaram o a utilização do Clubhouse ou o formato de áudio é tão flexível que veio pra ficar?

But while Clubhouse may be the hottest app in the world, Twitter is well positioned to co-opt its energy with Spaces, a clone that replicates Clubhouse’s features and integrates them into the Twitter app. Twitter’s version — just rolling out — is intuitive, a logical fit, and adds a meaningful new experience to the app. — The Case for Twitter Spaces. Why Twitter’s Clubhouse clone is poised… | by Alex Kantrowitz | Feb, 2021 | OneZero

Existem uma série de hipóteses para o futuro do formato (não apenas do Clubhouse). É o espaço que se abre para AI Conversacional (nem sei se esse termo existe), tipo a @kuki_ai. É muito fácil prever o passado e dizer que o futuro é das redes sociais se baseia em audio, mas esse formato realmente me conquistou, pelo menos agora. Vamos ver se isso se torna um hábito, assim como é abrir o twitter para me atualizar. Tenho usado como rádio, onde você escolhe a estação e deixa rolando, principalmente em rotinas que não precisam de foco nem compromisso.

Minhas dúvidas:

  • Será que haverá uma migração, mesmo que pequena do Clubhouse para o Twitter Spaces;
  • Será que isso prejudica ou favorece o Podcast?
  • Não vejo isso combinando com o Facebook/Instagram, mas Twitter, TikTok e SnapChat tem um fit muito grande para o formato. Será?