Mais do que um slogan ou uma ideia genérica, a visão precisa ser funcional e aplicável, caso contrário, é só uma visão. Uma miragem.

Uma visão boa, na minha opinião, ajudam nos aspectos abaixo.

1. Direção prática para decisões de produto e tecnologia

A visão proporciona critérios objetivos para priorizar investimentos, sejam eles no desenvolvimento de novas funcionalidades, na substituição de sistemas ou na adoção de tecnologias emergentes. Ela elimina discussões baseadas em opiniões divergentes ou pressões externas de curto prazo, concentrando esforços em iniciativas que impulsionem a proposta de valor central da empresa. Isso é crucial para evitar desperdícios em projetos que parecem promissores isoladamente, mas que não contribuem para o panorama estratégico maior.

Além disso, a uma boa visão ajuda a lidar com compromissos difíceis. Quando diferentes stakeholders têm demandas conflitantes, uma visão sólida serve como referência para justificar decisões e alinhar expectativas. Isso garante que a alocação de tempo, pessoas e dinheiro estejam em sintonia com o destino de longo prazo, protegendo a empresa contra a dispersão de esforços em múltiplas direções que não geram impacto significativo.

2. Foco objetivo para equipes multidisciplinares

Equipes compostas por profissionais de áreas diversas frequentemente enfrentam desafios na comunicação e no alinhamento.

Designers podem priorizar a experiência do usuário, engenheiros podem focar na robustez técnica, enquanto gestores de produto estão de olho na viabilidade. Sem uma visão clara, essas diferenças se tornam fontes de conflito. Uma visão bem definida fornece um direcionamento unificado que permite que cada disciplina contribua de forma complementar. Parece óbvio. Mas pode conferir que isso quase nunca acontece.

Esse alinhamento não significa uniformidade; ao contrário, ele reconhece o valor das diferentes perspectivas, mas garante que elas convergem para resultados que atendam aos objetivos estratégicos da empresa.

3. Alinhamento entre planejamento estratégico e execução

A ponte entre estratégia e execução é um dos maiores desafios em qualquer organização. Daí entra a parte tática.

Muitas vezes, planos bem desenhados fracassam porque não são traduzidos em ações práticas. A boa visão desempenha o papel de facilitar os planos táticos, que por sua vez transformam aspirações de longo prazo em guias concretos para os times operacionais. A visão não define o que deve ser feito, ela é só uma visão e não o plano. Mas ela é importante por criar um senso delimitador em todos os níveis.

Esse alinhamento coordena as diferentes equipes. Quando a visão é clara, ela elimina redundâncias e previne iniciativas contraditórias. Isso economiza tempo. Mitiga intrigas. Mas o importante é que ela aumenta a eficiência.,

4. Coesão no desenvolvimento do produto

Decisões sobre quais funcionalidades priorizar, como abordar problemas de design ou que métricas acompanhar devem ser guiadas por um conjunto claro de princípios derivados da estratégia, que por sua vez é derivada da visão.

Isso é especialmente relevante em produtos complexos, onde múltiplas partes interessadas podem interpretar necessidades do usuário de formas diferentes. Uma visão bem comunicada oferece o contexto necessário para que essas decisões sejam consistentes.

A longo prazo, essa coesão se traduz em produtos que contam uma história clara para os usuários. Um produto que reflete sua visão estratégica não apenas resolve problemas práticos, mas também comunica valores e diferenciais que reforçam o posicionamento da marca no mercado. Isso ajuda a empresa a construir lealdade e evitar o risco de diluição do propósito original ao longo do tempo.

5. Expectativas claras para stakeholders

Investidores buscam clareza sobre os planos futuros da empresa, enquanto funcionários querem entender como suas contribuições individuais ajudam a alcançar os objetivos maiores.

Uma visão bem definida atende a ambos ao oferecer uma narrativa consistente sobre para onde a organização está indo e por que essa direção faz sentido. Ela ajuda a articular prioridades de forma que cada pessoa consiga visualizar seu papel.

Por outro lado, comunicar expectativas também significa ser transparente sobre o que não será feito. Isso evita frustrações e promove alinhamento no longo prazo. Ao ser claro sobre os limites de atuação e as escolhas estratégicas, a liderança constrói confiança e estabelece uma base sólida para colaboração com stakeholders internos e externos.

A comunicação é o mais difícil de se fazer, pois requer consistência e frequência

Uma visão bem construída só é útil se for amplamente compreendida e acessível. Isso exige esforço contínuo para garantir que todos os níveis da organização internalizem seus princípios.

O trabalho do CEO é papagaiar incansavelmente a visão e as definições estratégias. É ele que identifica que seus diretores e times podem estar dispersando. Ele precisa garantir que as delimitações ainda estão claras.

Mais do que um documento formal, a visão precisa estar presente em cada conversa, revisão de projeto e planejamento de roadmap. Isso transforma a visão em prática. Isso transforma a estratégia, em realidade.

E não é a comunicação dos indicadores, reports das métricas ou resultados. É a comunicação da Visão e também das decisões estratégicas. Exatamente porque os indicadores ou os OKRs, são apenas como a gente mede se estamos no caminho correto para alcançar essa visão e a estratégia.

Ao mesmo tempo, a comunicação externa, ou seja, como nós comunicamos nossas decisões estratégicas baseadas numa visão forte para nossos clientes e para o mercado, tem o poder de equilibrar expectativas e proteger as decisões que fizemos internamente, sem nos expor para concorrentes.

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