Na mesma semana e quase no mesmo dia, dois amigos conversaram comigo sobre suas insatisfações no trabalho e que eles estavam pedindo demissão. Ambos tem bons cargos. Ambos são muito mais inteligentes do que eu. Ambos são especialistas nas suas áreas e ganham, em relação ao resto do Brasil, muito bem.
Eles tem outra coisa em comum: são movidos por propósitos. Eles se entregam realmente para empresa a fim de fazerem a diferença no negócio, impactando a vida das pessoas dentro e fora da empresa. Mas as empresas tem seu próprio timing. Esse timing é modificado e regido pelo momento de mercado, pelos clientes e principalmente pelas pessoas que realmente decidem o caminho da empresa. Quando esse timing se dessincroniza com o timing pessoal dos funcionários, a empresa perde talentos... Ou o talento perde uma ótima empresa.
Mas essas desincronias são comuns. Fazem parte da vida da empresa e é inevitável. Então, como podemos amenizar o impacto quando uma guinada dessa acontecer?
- Encontrar empresas que tem uma causa, propósito e princípios parecidos com os seus;
- Não focar sua vida apenas no trabalho. Sua vida profissional pode sim ser o objetivo focal, mas com certeza você tem outros objetivos na vida para se dedicar, sejam objetivos que vão fortalecer sua vida profissional ou objetivos que irão aumentar sua qualidade de vida;
- Momentos assim são importantes para fortalecer sua camada de resiliência. Resiliência é muito difícil de criar e manter. Quando se tem resiliência, você consegue passar mais tempo dentro do furacão e eventualmente você vai conseguir ficar dentro do furacão tempo suficiente para ver ele acabar. Aí começa outra fase da resiliência: depois do furacão, você consegue ver os estragos, e aí você tem que reconstruir. Reconstruir coisas pode ser tão duro e difícil quanto passar pelo furacão em si;
- Cobrar alinhamento da liderança. Saber claramente os motivos pelo qual a empresa está mudando de direção pode trazer mais consciência sobre o negócio. Essa consciência pode te ajudar a racionalizar seus motivos pessoais e ajudar a empresa a caminhar por um caminho com menos espinhos;
O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. - Han, Byung-Chul. Sociedade do cansaço
Mas tudo isso só vai servir para diminuir incertezas e não ter mais certeza de que tudo vai dar certo. Acho que você já sabe que você não é seu crachá. O que você executa no seu trabalho, é só uma fração da pessoa que você realmente é.