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Web Development

Os dois front-ends: designer e engineer — Parte 1 : Uma breve história

Diego Eis

O perfil do desenvolvedor front-end mudou e se transformou em dois (talvez mais)
perfis diferentes. Entenda como tudo começou e saiba em qual perfil você se
encaixa mais.

*Escrevi ouvindo essa música. Recomendo para a leitura: The Little Things That
Give You Away —
U2


O menino do HTML. Essa era a visão padrão que o mercado web tinha do
front-end por um simples motivo: front-end não tinha responsabilidades
importantes. Pelo menos era o que o Designer, o Back-end e os clientes
(resumindo: o mundo) achavam.

O designer e o back-end detinham as grandes responsabilidades de um projeto.
Enquanto um definia o layout, fluxo do sistema e como seria o comportamento do
usuário no projeto, o outro fazia tudo isso funcionar. Ele era o cara que
manjava de servidor, modelagem de banco de dados, linguagens de servidor e tudo
quanto era mandinga.

Por sua vez, o front-end não se encaixava em nenhum dos dois extremos. Ele fazia
código, mas o código não funcionava sozinho, sem linguagem de servidor
envolvida
. Ele transformava o layout para código HTML/CSS/JS, mas o layout
não era ele que tinha feito
. Junte isso com o fato de que NINGUÉM sabia
exatamente o que era desenvolvimento para internet e pronto, um homem foi jogado
ao mar.

Era uma época infeliz.

Mas hoje vivemos nos tempos modernos. Vivemos num momento onde a tecnologia
parece não ter fronteiras e que o desenvolvimento web vive numa evolução
contínua de ferramentas e novos padrões, transformando a Web numa plataforma
real para o futuro (há controversas).

MVC: Quem determinou até onde vai o front-end e onde começa o back-end?

Essa coisa de limites entre back-end e front-end sempre foi uma polêmica.

Em todos os projetos, de todos os tamanhos, era necessário haver uma conversa
entre os desenvolvedores e os front-ends — sim, as pessoas separavam os devs
verdadeiros dos front-ends… briguei muito com isso nas empresas que eu
trabalhei
— para combinar até onde o back-end iria, para que o front-end
pudesse implementar o layout.

Em uma época não muito distante, todo mundo trabalhava ou queria trabalhar em
projetos com estrutura MVC. Você pode saber o que é a estrutura MVC
aqui
.

Alguns times preferiam que o back-end fosse até a camada de Model. O Front-end
era o responsável então por montar as Controllers para então manipular as Views.
Em outros times, os front-ends preferiam que os back-ends fossem até as
Controllers para que eles ficassem responsáveis apenas pela View.

Nem preciso dizer que era uma grande confusão, pois se você ir pela lógica, o
front-end só mexe no client-side. A Controller é a área cinza. É na Controller
que intermediamos o Model (só dados, faz sentido ficar com back-end) e a View
(totalmente client-side, faz sentido ficar com front-end).

Tinha outros times que combinavam que todo mundo podia mexer na Controller.
Obviamente não dava certo.

Até que veio a era das APIs e o início da depressão

Quando todo mundo começou a trabalhar com APIs, microserviços, webservices e
todas as outras tecnologias relacionadas, foi aí que a coisa começou a se
organizar.

Com a criação de APIs havia um limite claro entre back-end e front-end: o
back-end criava os endpoints e o front-end lia as informações contidas nesses
endpoints e fazia o que tinha de ser feito. O único acordo que as duas partes
deveriam fazer era como a estrutura desses dados seria exposto: o famoso
contrato.

As APIs ajudaram a demarcar um limite de atuação dos back-ends e front-ends. A
briga entre os dois lados cessou um pouco e a coisa começou a andar
decentemente.

Com isso, a briga entre os dois mundos acabou. Mas infelizmente nem tudo são
flores. Com a vinda das APIs, uma série de complexidades foram criadas para o
lado do front-end. Alguma da lógica e da regra de negócio começou a ficar do
lado de front-end. Agora não era só exibir informação na interface do layout,
alguém gerir os estados de componentes, lidar rotas, gerenciar tokens de acesso,
segurança e tudo o mais.

Foi aqui que centenas de frameworks e bibliotecas JS surgiram (e morreram) da
noite pro dia, tentando resolver os problemas que antes eram de back-end, no
client-side.

Todo mundo ficou desconfortável, mas a coisa andou

**No meio dessa mudança toda, muitos front-ends não estavam acostumados a lidar
com lógica e regras de negócio que agora estavam transbordando para o lado do
client-side, exatamente por que a praia deles era escrever CSS e Javascript
para interface
.

Nessa revolução, houve um breve momento onde o Javascript ganhou MUITA
visibilidade. E aí os front-ends que sabiam MUITO Javascript se destacaram. Isso
era bom e ruim. Os front-ends que não gostavam ou não sabiam trabalhar com
programação pesada de JS, acabaram se decepcionando. Houve uma momento onde era
até vergonhoso dizer que não manjava de JS, e só sabia trabalhar com JS para
interface.

Aí aconteceu de tudo um pouco: vários devs não se consideravam mais devs,
exatamente porque eles só sabiam CSS e HTML com um pouco de JS
para interface
e achavam que não tinham competência para fazer toda essa coisa nova. Outros
simplesmente não gostavam de lidar com lógica, mas adoravam a parte visual.

Em paralelo o mercado mudou de vez: teve front-end que virou back-end. Teve
back-end que virou front-end. Teve front-end que saiu da área. Teve empresa que
demitiu back-end pra contratar front-end, dado que o trabalho de integrar API na
Interface se tornou maior que fazer APIs. Uma revolução total na era.

Mas desse balaio saiu uma reformulação do perfil do desenvolvedor front-end.

Dois perfis de profissionais ficaram bem claros no mercado:

  • Um dev que manjava MUITO de interface. Que dominava CSS como ninguém e todos os
    truques de JS para manipular elementos no DOM com CSS, além de conseguir lidar
    com o designer discutindo soluções de layout;
  • E outro profissional que tinha uma grande facilidade para a parte funcional da
    coisa. Ele não era um back-end, mas consegue discutir soluções funcionais de
    igual para igual.

No próximo artigo, quero falar um pouco sobre cada um desses perfis e como eles
se encaixam no desenvolvimento de software atual.

Bônus para quem está começando agora.

Abaixo, segue uma imagem muito interessante que o Kamran
Ahmed
fez no seu artigo Modern Frontend
Developer
,
mostrando uma opção de caminho que geralmente alguém toma para se tornar um
front-end. Fique como referência, mas não como verdade. Talvez o início pode
acontecer igual para todo mundo, mas no meio do caminho pode haver algumas
mudanças de pessoa para pessoa. Mesmo assim é uma grande referência.