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Mercado de Tecnologia

Entrevistas que fui negado

Diego Eis

No dia 04/08/2021 entrevistei 6 pessoas. Foi um dia intenso. Nem imagino como a Ana, responsável pela seleção e recrutamento da firma, consegue fazer isso todos os dias. No final do expediente eu já estava trocando os nomes das pessoas e nem lembrava mais pra qual das áreas estávamos contratando.

Eu já estive nos dois lados da mesa e nenhum dos lados é fácil. Já participei de muitos processos seletivos de grandes empresas e não passei. Mas já entrevistei muito também e tive (tenho) que lidar com a urgência de não encontrar a pessoa certa.

Ninguém conta a parte ruim na rede social, né? Lá tem só foto de kit de onboarding bonito, imagens maravilhosas do primeiro dia do escritório ou despedidas incríveis que deixarão saudades. Difícil contar todas as outras dezenas de oportunidades que foram negadas.

Meus exemplos de casos ruins

Eu participei de pelo menos 3 processos na Nubank. Não entrei em nenhuma das vezes. Na primeira o feedback foi de que “não podemos fazer produtos pra nós mesmos”, depois que eu dei um exemplo de problema que eu próprio tinha como cliente. Na segunda foi por que cheguei 15 minutos atrasado (era on-line). Sim. Não quis fazer a entrevista no escritório da empresa que eu trabalhava (acho isso mancada). Fiquei ansioso por pelo menos 1h30 no trânsito de SP pra chegar em casa. Nem ouviram o motivo. Na terceira disseram que eu “não tinha visão de negócio”.

Fui negado uma vez no 5º Andar. Dessa vez a entrevista foi pelo telefone, com um PM, que falou comigo durante 15 minutos. Justificativa: “fit cultural”. Sim. Ele chegou a essa conclusão depois de falar comigo durante 15 minutos… pelo telefone.

No Santander, no último minuto, fui negado por que não tinha faculdade. “Pois é…” eu falei, “priorizei abrir uma empresa e empreender durante 6 anos em vez de fazer faculdade. Ia ser difícil conciliar as duas coisas.” RH olhou com cara de “resposta errada, amigo”. Ainda bem que não rolou.

Existem outros vários casos, inclusive no início de carreira, que fui negado em uma empresa para vaga de front-end por que eu não fazia sites para Netscape nem usava Dreamweaver (pois é).

As vezes você não estava pronto mesmo

Trabalhei durante 5 anos na Locaweb. Minha primeira entrevista era pra ser PO de um dos produtos, que na época, era um dos produtos mais bem colocados da empresa. Acabei entrando como coordenador técnico, estruturando a área de front-end.

Nesse caso, minha reputação na área de front-end falou muito mais alto que os meus 6 anos empreendendo.

Foi até bom, por que olhando agora em retrospecto, eu não manjava muito de como funcionava o produto. Além disso, eu não era a pessoa que sou hoje. O timing (pra não dizer maturidade) de vida era totalmente outro.

Nós passamos a maior parte do tempo insatisfeitos com a empresa em que estamos. E nesse tempo, geralmente, culpamos a empresa por não ter bons processos, por não ter uma visão clara de bonificação, de não ter uma visão definida de progressão de carreira, de que a comunicação dos times é ruim e não há transparência quanto a estratégia de médio/longo prazo. Sempre, sempre, sempre encontramos um ponto negativo da empresa ou nas pessoas que trabalham lá, mas quase nunca fazemos uma auto-análise do nosso próprio momento.

Tem o problema dos viéses

Vários estudos dizem que entrevistas de emprego são cheias de vieses. Como entrevistador, particularmente, mesmo tendo consciência, tento de toda forma me desviar desses vieses. Não gosto de olhar foto, local, formação ou qualquer coisa que possa influenciar de alguma forma, consciente ou inconsciente, minha opinião antes da conversa com o candidato.

Na área de produtos a coisa do ego tem se intensificado cada vez mais. Muitos nem estão fazendo força pra esconder. Essa ultra exposição que startups recebem por causa dos investimentos bilionários mexe com algumas cabeças por aí… Não é só por que a empresa conseguiu chegar no valuation bilionário que você, exclusivamente, agora é o astro do rock. No máximo isso quer dizer que um grupo de pessoas fizeram um ótimo trabalho.

Concluindo

Alguns bullet points sobre o que eu aprendi nesse processo todo:

  • Aprenda a ler o momento da sua carreira. As vezes, sem fazer uma leitura honesta e sobre o seu momento de carreira, fica difícil de saber para onde você quer ir. O que nos leva para o próximo ponto.
  • Sabendo para onde você quer ir, aprenda a escolher as empresas que estejam no momento certo para o seu desenvolvimento de carreira. Por exemplo: se você está em um momento de aprendizado, talvez seja melhor estar em um produto já maduro, para você ter calma para aprender e a pressão por resultados de curtíssimo prazo não seja tão grande.
  • Adeque o discurso à necessidade da empresa. Isso não quer dizer que você precisa mentir, mas que você precisa filtrar sua história para expor apenas o que tem fit com a posição/responsabilidade que você esteja procurando.
  • Entenda mais sobre a cultura daquela empresa. Geralmente as pessoas indicam para você aprender mais sobre o negócio da empresa antes de fazer a entrevista, mas aprender sobre a cultura é tão importante quanto. Saber quais os valores e princípios que a empresa tenta praticar internamente é importante para que você afine seu discurso, além de entender se esses mesmos valores estão de acordo com os seus próprios valores e princípios.
  • Lembre-se de que você também escolhe a empresa. A entrevista vem depois que você escolheu a empresa que gostaria de trabalhar e depois que você avaliou a cultura, princípios e valores, mercado, produto, negócio etc. Até mesmo quando empresas te procuram de forma ativa, é importante que você escolha se quer ou não prosseguir com o papo.

E você, já teve alguma entrevista que não deu certo por algum motivo ou que o processo/feedback tenha sido meio obtuso?