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Gestão e liderança de Produtos

PMs não são CEO de coisa alguma

Diego Eis

Você já deve ter ouvido a frase “O PM é o CEO do produto”. Essa frase se tornou bastante comum entre os PMs na tentativa de explicar qual a responsabilidade do seu papel. A primeira vez que ouvi essa frase foi no ótimo antigo artigo do Ben Horowitz chamado Good Product Manager/Bad Product Manager. O próprio autor colocou um disclaimer no início do texto avisando que tal artigo pode não se adequar mais à realidade dos PMs hoje. E de veras, não se adequa, pelo menos quando dizemos que o PM é o CEO do produto.

O PM tem muitas responsabilidades, e na minha opinião, poucas delas não são compartilhadas com outras áreas e pessoas. É por isso que há uma confusão enorme sobre qual o papel de PM nas empresas. Ele participa das decisões, mas não decide nada de fato. Ele diz quais os próximos passos do time, mas não é “chefe” de ninguém. Ele diz o que pode ser bom ou ruim para o cliente, mas não desenha nem executa a solução. Para quem vê de fora, a posição de PM pode ser bastante glamourosa, mas quando você analisa mais de perto…

Não é CEO do time

PMs não contratam pessoas no time, também não tem o poder de decidir quem é demitido. Aliás, PMs não tem um time. Ele não é chefe de ninguém. Embora ele possa participar de feedbacks ou possa participar de entrevistas de futuros membros do time, o PM não decide nada. Ele não decide a estrutura interna dos times, embora tenha um peso bastante grande (ou não) nessa decisão.

Muitos PMs acham que sua posição está cheia de autoridade, mas não está. Os PMs, tem, no máximo, a palavra final sobre o que fazer e o motivo pelo qual o time está fazendo aquilo, e só. O PM não é dono do time, e sim o contrário. Pense que o Time precisa de alguém com o chapéu de organizar o que deve ser feito afim de que o time entregue o produto certo para o usuário. O time não consegue lidar com isso é também desenvolver um bom produto, por isso é necessário alguém nesse papel.

Um dia eu ouvi de um PM muito talentoso, que ele não passava de um jogador, onde o time passava a bola pra ele, e ele devolvia essa bola para o time. Mas embora essa analogia seja muito boa, ele ainda não fazia parte do time, era ele e o time jogando bola, como dois personagens separados. Prefiro pensar que eu faço parte do time. E sim, alguns PMs acham que eles não são jogadores, mas os técnicos. Eu prefiro pensar que no máximo somos os capitães do time, tentando organizar o produto, mostrando visões do jogo que não estão claras para os jogadores de outras posições.

Não decide estratégia

Isso acontece também com decisões estratégicas da empresa. Você, como PM, não decide se a empresa em que trabalha vai mudar de estratégia de negócio. Exemplo: sua empresa vende frutas e agora vai passar a vender carros. É uma mudança de mercado, uma mudança brusca de atividade. Okay, posso ter exagerado. Mesmo que sua empresa fique no mesmo mercado, mas decida vender um novo produto… digamos: sua empresa vende frutas e agora decidiu começar a vender verduras também. Embora ficar de olho nos movimentos do mercado em busca de oportunidades seja parte da responsabilidade de um PM, ele não decide para que lado o barco (empresa) deve navegar. O PM deve ficar de olho no mercado afim de procurar por oportunidades para o produto. Dado que o C-Level decidiu vender verduras além das frutas, você como PM, tem o trabalho de pensar em como podemos adequar nosso produto para vender verduras da melhor maneira possível.

Embora ele não decida, é inteligente da parte da empresa envolver o PM nas discussões. Ele é quem está nas trincheiras e provavelmente é a pessoa que mais entende os usuários daquele determinado mercado, quando comparado com os membros do C-Level. Como o PM conhece o comportamento do usuário no produto, ele consegue ter uma visão importante dos cenários dessa mudança estratégica.

Visão, cultura e expectativas

Contudo, dentre as responsabilidades de um PM, talvez uma das mais importantes seja trazer para o tático a visão estratégica da empresa com, desdobrando essa definição por meio da visão de produto a nível de time.

É de responsabilidade do PM levar para o time as expectativas do C-Level, além das expectativas dos clientes. Aqui temos uma polêmica que pode ficar para outro artigo: a expectativa do cliente é mais importante que as do C-Level? A resposta rápida é: depende do momento do produto, da empresa e do mercado. Há tempo de saciar as expectativas do board e há tempo de saciar as expectativas dos clientes.

Bons PMs entendem que a diplomacia é uma das suas principais ferramentas. O PM une ideias, equipes e pessoas. Em um dia é representante do time perante o Board. No dia seguinte é representante da opinião do Board para o time. Mas todos os diasx vai representar as necessidades do cliente para toda a empresa. Quanto mais cedo um PM entender isso, mas tranquilo será seu trabalho. E quanto mais cedo os PMs entenderem que eles estão mais localizados na ponta tática executiva do negócio, mais consciência dos limites do seu trabalho eles terão.