Walter Isaacson fala sobre a influencia das redes sociais nas nossas vidas

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Em uma entrevista maravilhosa para o El País, o Walter Isaacson, que você deve conhecer pelos livros biográficos que ele escreveu, principalmente pela biografia do Steve Jobs, falou dentre muitas coisas sobre nossa relação com a tecnologias e principalmente com as redes sociais. Sugiro que você leia na íntegra a entrevista nesse link: Walter Isaacson: “As redes sociais dinamitaram a democracia” | El País Semanal na Edição Brasil do El País | EL PAÍS Brasil

As redes nos conectaram e ao mesmo tempo polarizaram. Há muitas explicações. Para começar, nos interesses comerciais das empresas que as gerem; entre elas, os veículos de comunicação, de como definem seu sucesso. Para ele o tráfego é fundamental e as brigas o asseguram. Muita gente utiliza isso com propósitos divisionistas, não de unidade.

Tão óbvio, mas ao mesmo tempo tão importante, que talvez esse seja o problema. As redes sociais não existem por causa das pessoas, mas por causa da natureza das pessoas. Elas querem ganhar dinheiro com o seu conteúdo, mas não com o seu melhor conteúdo, porque o seu melhor conteúdo não vende. Elas querem ganhar dinheiro com o que realmente vende: fotos de gatinhos, vídeos rápidos de dancinhas ridículas, montagens de vídeos e fakenews. Simples assim.

Existem poucas plataformas que realmente tentam trazer conteúdo de qualidade para o grande público. Não estou falando dos grandes canais de conteúdo, mas de iniciativas incríveis como o Longreads ou o Aeon (dois sites que sigo assiduamente).  E ainda assim, são sites de texto, não de video ou de qualquer outro formato derivado.

O que o Isaacson diz nessa frase tem muito mais a ver do como as pessoas se deixam ser manipuladas e essa manipulação acontece, de forma sutil, pelos serviços canais que nós mesmos alimentamos e que acabam, retroalimentando e estimulando os nossos comportamentos. Essa busca por cliques e atenção da maior quantidade de pessoas possível, mistura coisas boas com  coisas totalmente descartáveis, embotando nosso comportamento social dentro do ambiente digital.

O problema é que as pessoas, ou pelo menos o grande público, não quer ou nem consegue se aprofundar minimamente nesse assunto para conseguir analisar e discernir o quanto é perigoso, não apenas por causa da sua exposição pessoal por meio dos seus dados, mas também por causa da mudança de comportamento que o uso, sobretudo das redes sociais, causam na sua rotina.

Isaacson faz uma analogia maravilhosa na entrevista, onde ele diz que os pesquisadores de genética avisaram o mundo sobre os prós e contras das pesquisas que eles estavam guiando, assim que eles entenderam os riscos e os possíveis efeitos negativos que o uso abusivo das suas pesquisas e tecnologias poderiam causar em diversos âmbitos da sociedade. Isso é bastante diferente das empresas de tecnologia que controlam e concentram as grandes redes. Eles não advertem sobre os riscos que o uso abusivo e errôneo dessas plataformas podem causar em esferas culturais, políticas e principalmente sociais.

E veja, nós estamos começando só agora a discutir e a sentir os efeitos colaterais do uso abusivo que uma simples rede social pode causar no comportamento sociedade. Mas o Isaacson fala algo bem interessante: “Por mais que eu adore meu iPhone, a possibilidade que meus filhos e netos terão de manipular genes no futuro será muito mais importante que o outro.” Essa frase me ajudou a colocar em perspectiva o quanto é pequena a nossa preocupação atual e que isso não vai parar, pelo contrário, é uma evolução que vai atropelar e transformar toda e qualquer forma de valor moral que tínhamos anteriormente. Nem nos tocamos que nas próximas décadas nossos filhos (acho que mais netos) estarão expostos à tecnologias bem mais inovadoras, úteis e perigosas comparadas com as que temos hoje.

E aí vem uma pergunta maravilhosa do entrevistador Jesús Ruiz Mantilla: “Por isso a necessidade de conscientizar sobre as consequências nesse aspecto e em relação à frivolidade com que se fez o campo digital?”

Frivolidade. Talvez esse seja o resultado da transição que estamos vivendo, e como toda transição, ficamos excitados com tanta coisa nova acontecendo, aumentando a ansiedade de participar de todas as novas ondas de novidades. Então, essa banalização acaba subvertendo o real valor que essas tecnologias trazem para nós. Valorizamos o frívolo, desdenhando e se esquecendo do que realmente é relevante.