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Mercado de Tecnologia

Workism - Nosso trabalho, nosso templo

Diego Eis

Dizem de que o objetivo do trabalho não é apenas destinado para a produção econômica individual ou da sociedade, mas que ele também é peça chave da existência de uma identidade pessoal e também de proposta de vida. Isso se chama Workism.


Ouvi esse termo primeiro pelo Derek Thompson, que é escritor do The Atlantic, onde ele diz nesse artigo que o Workism é uma espécie de religião, que adora o trabalho e o coloca em destaque. Essa religião prega que o trabalho não apenas dignifica o homem - como muitos falam por aí - mas traz significado para a vida das pessoas. Traz propósito.

O Cris Dias fez um capítulo do seu podcast com título de Você não é o seu crachá. Nesse capítulo do Boa Noite Internet, ele fala sobre a própria experiência de mudar totalmente a trajetória de vida quando decidiu sair do Facebook e deixou de ser conhecido como o Cris do Facebook. Nós damos tanto valor ao nosso trabalho e ao que fazemos profissionalmente, que mesmo sem querer, atrelamos nossa profissão à nossa identidade. Isso acontece o tempo inteiro e em todo o lugar, basta perceber quando você assiste o jornal: logo abaixo do nome da pessoa entrevistada sempre está a sua profissão ou quando conhecemos alguém, uma forma de puxar conversa é perguntar sobre o que você faz. São pequenos detalhes que mostram que a cultura do ser humano é sim tentar se dignificar por meio do trabalho. Isso é estranhíssimo, já que o trabalho é uma das maneiras mais efetivas de criar stress, depressão, insatisfação, busca por ter sempre mais e por aí vai.

Uma transição necessária?

Ao mesmo tempo que o trabalho tem se tornado uma religião, existe um processo importante acontecendo e julgo que estamos numa transição importante e que vai impactar muito mais as novas gerações. Antes de chegar na era da automatização (onde supostamente todo mundo vai perder o emprego e morrer na rua da amargura), passaremos (e já estamos passando) por uma precarização do trabalho. Digamos que essa precarização é um degrau necessário, intermediário, para que as automatizações realmente comecem a atuar em um nível mais visível na vida normal das pessoas.

Quem está desempregado ou quem perdeu seu emprego tem procurado alternativas em serviços como Rappi, Uber, iFood e tantos outros. Sim, esses serviços são ideias maravilhosas. Mas ao mesmo tempo que esses serviços facilitam a vida de milhões de pessoas, um grande impacto social acontece para manter o sistema funcionando. Esses serviços empregam pessoas pagando o mínimo necessário. Mas quando não se tem opções decentes, qualquer opção serve, então as pessoas se agarram à estas opções disponíveis para tentar dar um respiro no bolso. Algumas empresas, como o iFood, são muito conscientes com essa questão e dão algum suporte para aliviar ou resolver problemas.

Mas não é muito difícil entender que um motorista de Uber poderá ser substituído por um carro totalmente autônomo. E obviamente não será só o motorista de Uber.

Logo, embora estejamos preocupados com a precarização do trabalho, eu entendo que isso é uma fase (rápida) da transição. Mas isso sou eu dando orelhada, não sendo especialista e nem estando inserido nesse mercado, além de estar sendo insensível.

(Des)motivação

Então, enquanto várias pessoas tem valorizado o culto ao trabalho insano non-stop, outras estão lidando com uma nova realidade obrigada de desapego de algo que até então ajudava a se definir como pessoa, sendo forçado uma alternativa que além de dar o sustento para o pão de cada dia, ajude também a ganhar uma nova forma de se identificar e ter um propósito. Ou que pelo menos era algo que trazia comida na mesa e mantinha um teto para as crianças.

Pessoalmente eu acho que o trabalho enobrece o homem. Seja ele qual for. Um trabalho péssimo faz você se questionar mais sobre a vida. Um trabalho ótimo faz você se motivar.

Existe um espectro de razões pelas quais as pessoas trabalham, Neel Doshi e Lindsay McGregor em Primed to Perform: How to Build the Highest Performing Cultures Through the Science of Total Motivation.

Eles definem os pontos de forma bem sucinta dividindo em duas vertentes: Motivações diretas e Motivações Indiretas:

As Motivações Diretas são:

  • Play: O trabalho sozinho já provê motivação para fazê-lo. Você não precisa de nenhuma outra forma de motivação, seja intrínseca ou extrínseca. O próprio trabalho já é suficiente;
  • Purpose: A valorização do impacto ou dos resultados que o trabalho fornece são a motivação para fazer o que deve ser feito;
  • Potential: Impactos e valores secundários te ajudam a ganhar motivação para fazer o trabalho. Exemplo: esse trabalho me impulsiona sua carreira, ajuda a sociedade, etc;

As Motivações Indiretas são:

  • Emotional Pressure: O motivo é completamente desconectado do trabalho. Culpa, por exemplo.
  • Economic Pressure: Recompensa, medo de punições são exemplos de motivações para fazer o trabalho. Essas motivações estão separadas das suas crenças;
  • Inertia: Fazer o trabalho apenas por que você já está fazendo. Conveniência. Você não identifica mais qual a fonte de motivação para fazê-lo;

As Motivações Diretas (play, purpose e potential) aumenta sua performance adaptativa e as Motivações Indiretas (emotional pressure, economic pressure e inertia) diminuem sua performance adaptativa. Isso quer dizer que é o melhor dos mundos se você não depender de qualquer outra motivação para fazer ou estar no trabalho, ou seja, ficar no nível Play, em vez de estar no outro lado do espectro, na Inertia.

A Lindsay ainda diz que a motivação total é a soma do peso das três motivações diretas, menos o peso das três motivações indiretas refletem a distância relativa entre você e o sentido do trabalho em si.

Trabalho nunca será desnecessário. Mesmo quando a maioria do trabalho for feita por robôs com as 3 leis do cérebro positronico, você ainda executará atividades que de alguma forma devolvem qualquer tipo de benefício pro mundo ou no mínimo para você. O trabalho está aí desde o início e existira até o fim. O que deve mudar é como lidamos com ele.

Referências