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Gestão e liderança de Produtos

Network Effects, Lei de Metcalfe e produtos digitais

Diego Eis

Mágica. Só podia ser mágica. Você escreve algo numa folha de papel e depois coloca essa folha numa máquina. Digita um número e aperta um botão. A máquina suga o papel e em outro lugar, distante, uma pessoa pega o papel que sai de uma máquina similar a sua, com a mensagem que você escreveu. Tipo uma máquina de Xerox que teletransporta uma cópia da sua mensagem para outro canto do planeta!

O Fax foi uma daquelas invenções que realmente encurtaram distâncias. A ideia inicial do Fax foi patenteada por Alexander Bain em 1843. Isso foi há 175 anos atrás!

Hoje o Fax não é mais usado e foi derrubado pelos meios que já conhecemos atualmente. Contudo, assim como o telefone, o Fax é um símbolo de como o Efeito de Rede é essencial para todos os produtos, seja eles digitais ou físicos.

A primeira vista, esse assunto pode se juntar com tantos outros na categoria de “todo mundo já falou sobre isso”. Contudo, empresas de produtos aqui do Brasil não dão a devida importância para esse assunto. Já as empresas gringas, têm seus negócios fundamentalmente estruturados e organizados levando em consideração os Efeitos de Rede.

O básico: o que é o efeito de rede?

Network Effects ou Efeitos de Rede diz que quanto mais usuários, maior o valor que o produto entrega para os outros usuários da rede.

Fica muito mais claro de entender quando você estuda os modelos de negócios de produtos como o Uber, Mercado Livre, AirBnB, Twitter, Facebook e praticamente qualquer outro serviço online atual.

70% do valor criado em tecnologia desde 1994 tem sido dirigido pelos efeitos de rede. —

de acordo com o site NfX

Os tipos de efeitos de rede

Existem duas principais categorias de efeitos de rede: a rede que consiste de um único lado e redes de múltiplos lados, também chamadas de rede multi-side.

As redes de um único lado são redes que precisam de apenas um tipo de usuário para ela funcionar, por exemplo, o Fax ou o Telefone. Essa categoria também é conhecida como “Rede Homogênea”.

Redes de múltiplos lados são redes que juntam duas pontas diferentes. Pegue o Uber por exemplo, que une passageiros e motoristas. Ou o iFood, que conecta restaurantes com clientes. Logo, há pelo menos dois lados nessa rede: um lado que demanda uma necessidade, e outro lado que supre essa necessidade. Esse tipo de rede pode ser chamada também de “Rede Heterogênea”

Contudo, distribuídas dentro dessas duas categorias, podem existir vários tipos de redes. Só para citar alguns:

Marketplace

Um serviço que junta vendedores e compradores, por exemplo. Essa categoria é uma das mais comuns na internet dado que todos os dias usamos serviços como Mercado Livre, Amazon e eBay.

Plataformas

Esse tipo é bastante parecido com o Marketplace, mas podemos dizer que no caso das Plataformas, o assunto fica mais técnico. Nesse tipo, podemos colocar sistemas operacionais de desktops como o Windows e Linux, e também sistemas mobile como iOS e Android, que permitem juntar desenvolvedores com usuários.

Alguns estudiosos não se limitam a colocar nessa categoria apenas plataformas tecnológicas, mas também serviços como Medium, onde junta escritores com leitores, transformando o serviço em uma plataforma de geração e consumo de conteúdo. Eu gosto da ideia.

Pessoais

Aqui podemos destacar as redes sociais. Facebook pode ser a grande estrela dessa categoria. Serviços ou produtos que juntam pessoas dos dois lados, facilitando a conexão e relacionamento entre elas entram nessa categoria.

Esses três tipos são tipos diferentes de redes que tem seus próprios efeitos. Cada uma delas trabalha de maneiras diferentes, mas todas elas conseguem usufruir dos efeitos de rede.

Densidade das redes e a Lei de Metcalfe

Todas as redes são formadas por dois componentes principais: nós e links. Em várias explicações por aí esses nomes mudam. Eu prefiro chamar de atores ou pontas no lugar de nós. E conexões no lugar de links. Contudo, a essência não muda: as pontas estão conectadas. Essa conexão é feita pelo produto ou serviço.

https://medium.com/@nfx/the-network-effects-bible-c6a06b8ae75b

A famosa densidade das redes é medida pela quantidade de pontas e conexões existentes em uma rede. Quanto mais pontas conectadas, mais poderoso é o efeito de rede.

E é aí entra a Lei de Metcalfe. Será que a quantidade de pontas conectadas afeta o valor de uma rede? Será que afeta o valor da empresa ou do produto? E a sua receita?

Lei de Metfcalfe

Você já deve ter visto a imagem abaixo:

Essa imagem é bastante usada para explicar o poder das conexões em uma rede.

A Lei de Metcalfe — concebida pelo George Gilder, mas atribuída à Robert Metcalfe, co-inventor da Ethernet — foi usada para explicar primeiramente o efeito de rede em telecomunicações, levando em consideração os dispositivos conectados e não os usuários. Quando a internet se popularizou, essa regra foi usada para caracterizar o valor da rede levando em consideração a conexão entre os usuários.

Basicamente o que a Lei de Metcalfe diz é que uma rede se torna cada vez mais valorosa conforme as conexões entre as pontas aumentam. Quando temos apenas uma máquina de fax, ela se torna inútil. Quando temos duas, temos pouco valor. Quando temos milhares de máquinas de fax conectadas, o valor dessa rede cresce muito.

A fórmula do Metcalfe

Eu não quero entrar no campo da matemática, mas vou dar uma pincelada nessa fórmula, para você entender o estudo abaixo: basicamente a lei de Metcalfe diz que o valor (V) de uma rede é proporcional a quantidade (n) de suas conexões ao quadrado. Basicamente a fórmula é: V∝n². Existe uma série de estudos discutindo se essa é a fórmula mesmo correta, contudo, nenhuma delas traz evidencias ou foi aplicada em algo real, até que em Dezembro de 2013, quando o próprio Robert Metcalfe aplicou sua fórmula usando números reais do Facebook!

Este estudo explica todos os passos e hipóteses que o Metcalfe levou em consideração para aplicar a fórmula aos números do Facebook. Ele queria provar que o valor de receita do Facebook é proporcional ao número de usuários ativos mensais ao quadrado.

https://www.researchgate.net/publication/273895436_Tencent_and_Facebook_Data_Validate_Metcalfes_Law

Indo direto para a conclusão do estudo: Sim! A lei de Metcalfe se aplicou perfeitamente (levando em consideração os números da época), provando que a receita gerada pelo Facebook é proporcional ao número de suas conexões elevada ao quadrado, mostrando que o valor de um produto aumenta conforme sua rede cresce.

Network Effect em produtos digitais

O que o Waze, Viber e Moovit tem em comum? Além de todos eles serem de Israel, todos eles são produtos que cresceram naturalmente por conta dos efeitos de rede.

É óbvio que vários produtos e negócios surgem da criatividade do empreendedor querendo suprir uma necessidade ou resolver um problema. Quase ninguém pensa em criar um negócio iniciando pelo potencial de efeito de rede. Mesmo assim, se você já tem um produto ou se você está na fase de planejamento de um, é importante identificar como seu produto cria uma rede e quais são os seus efeitos, além dos valores que todas as conexões trarão para rede.

Um ponto importante é que o valor não vem apenas de novos usuários, mas também de outros personagens que podem ser incluídos na rede. Já falei um pouco sobre esse pensamento chamado Service Dominant Logic aqui nesse artigo. Nesse caso, você amplifica o valor da rede não apenas os usuários finais, distribuindo esse valor entre todas as pontas que sustentam a rede.

David Sacks investidor master ultra blaster do mundo, mostrou nesse tweet como funciona o ciclo virtuoso do Uber.

Nesse outro artigo, o Whitney Zimmerman mostra um estudo que ele mesmo fez sobre como o efeito de rede influencia todo o modelo de negócio do Uber, se baseando nesse desenho de guardanapo do David Sacks.

Conclusão

Faça um exercício: tente desenhar o que seria a rede na qual a empresa que você trabalha está inserida. Tente colocar as pontas e suas conexões com a sua empresa, além do valor que cada uma das conexões traz para a rede. Abaixo segue alguns exemplos que eu fiz.

Obviamente esse exercício que fiz podem ser melhorados, até mesmo porque eu não trabalho em nenhuma dessas empresas, e por isso, é uma visão de fora. Mas espero que talvez sirva de motivação para você tentar desenhar a rede da empresa em que trabalha.

Para ler mais: